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São Marçal de Limoges, bispo, em São Luís, aquele que encerra a festança

“No dia 30 de junho tem um momento especial, o encontro de bumba-bois encerrando a festa na avenida São Marçal.”


Diácono Transitório João Pedro Fonseca

 Paróquia Nossa Senhora Aparecida

Morros - MA


Avenida São Marçal, bairro João Paulo | Foto: Divulgação

Fechando o ciclo dos santos juninos, no Maranhão temos um diferencial em relação aos outros estados do Nordeste. Enquanto os demais encerram a festa com as homenagens a São Pedro no dia 29, os maranhenses se permitem estender um pouco mais os folguedos para festejar São Marçal no dia 30 de junho. Uma festa quase centenária que reúne um grande número de grupos de bumba-meu-boi, principalmente do sotaque de matraca ou da Ilha, para reverenciar o santo.


Quem foi são Marçal?


Imagem: reprodução da internet

Uma pergunta muito frequente feita por quem participa das homenagens ao santo é essa. Diferente dos demais santos reverenciados nesse período, a história de São Marçal não é tão conhecida pelos seus devotos, são poucos os dados biográficos que chegam até nós. Os escritos de São Gregório de Tours (538-593) relatam o envio de São Marçal, de Roma para Limoges, na Gália, atual França. Foi o primeiro bispo do local e evangelizou a Aquitânia, uma região próxima de Limoges. Seria o próprio São Marçal um gaulês. Foi martirizado no século III junto com outros dois presbíteros de sua diocese. Sua imagem geralmente o apresenta como um bispo, de casula ou capa pluvial, báculo e mitra – o chapéu do bispo. Outras o trazem com uma tocha, na companhia de um anjo ou com uma casa em chamas a seus pés.


Em Limoges, a cada sete anos, acontecem as Ostenções, que são procissões com as relíquias dos santos limosinos Marçal, Aureliano, Loup e Valério, pelas ruas da cidade para pedir proteção. Apesar da forte devoção popular que lhe redem tanto no Maranhão quanto em Limoges, São Marçal não é um santo oficial da Igreja Católica.


As lendas


Muitas lendas foram assimiladas à figura do santo e lhe renderam um caráter mais mítico. A mais famosa delas lhe coloca no cenário bíblico da vida do próprio Jesus Cristo. São Marçal teria sido parente de Santo Estevão e acompanhara Jesus e os apóstolos bem de perto, sendo o menino que traz os cinco pães e os dois peixes no milagre da multiplicação dos pães (Jo 6,9) e o ajudante no lava-pés durante a última ceia (Jo 13,1-15).


Depois da ressurreição e ascensão de Jesus ele teria se tornado um dos discípulos de São Pedro que, orientado em sonho pelo próprio Jesus, o enviou para evangelizar na Gália, entregando-lhe um cajado que era visto como milagroso. Com ele São Marçal teria ressuscitado um morto, curado paralíticos e apagado incêndios, com isso ele passa a ser invocado como protetor conta os incêndios e padroeiros dos bombeiros.     


A festa no João Paulo


Foto: reprodução da internet

No Maranhão o ápice das homenagens ao santo se dá na avenida que leva o seu nome no bairro do João Paulo na cidade de São Luís. Duas versões são conhecidas para explicar a origem da festa de São Marçal. A primeira diz que o evento surgiu a partir da proibição da apresentação de grupos de bumba-meu-boi no Centro de São Luís por parte da elite ludovicense no começo do século XX, com o pretexto da manutenção da ordem e tranquilidade. Com isso os grupos não poderiam passar do Areal do João Paulo. Ali mesmo os brincantes passaram a se reunir e, ao longo dos anos, ampliaram a festa até as dimensões que tem hoje.


Uma segunda versão apresenta o senhor José Pacífico de Moraes (1901-1972) como um dos responsáveis pelo evento. Ele teria assistido diversas apresentações de bumba-meu-boi no bairro do Anil e decidiu trazê-las para se apresentarem em frente à sua casa no bairro do João Paulo, dando início a festa.


Não se sabe como começou a atribuição a São Marçal, mas ela ganhou força e notoriedade principalmente a partir dos anos 1980. Hoje uma estátua de 5 metros do santo está em destaque no local dos folguedos. A prefeitura de São Luís tornou a festa de São Marçal um bem cultural e imaterial da cidade e decretou o 30 de junho como dia do Brincante de bumba-meu-boi. Estima-se que 300 mil pessoas passem pela avenida São Marçal ao longo da festa.


Na Arquidiocese de São Luís e pelo mundo


Apesar da grandiosidade da festa de São Marçal, o santo não conta com nenhuma capela devocionada a ele na nossa Arquidiocese. Mesmo assim, é de praxe a festa do dia 30 de junho ser iniciada com a benção de um padre para as brincadeiras que irão se apresentar.

Para além da região de Limoges, existe uma capela dedicada a São Marçal no interior do Palácio dos Papas em Avinhão, na França. Ela está no segundo andar da Torre de São João e reconstitui através de suas pinturas os pontos fortes das lendas sobre São Marçal e sua relação com São Pedro e os apóstolos. Ainda na Europa encontramos uma pequena capela dedicada a São Marçal em Setúbal, Portugal. No povoado Barreiros, na região de Pedreiras – MA, em setembro de 2015 foi inaugurada uma capela dedicada a São Marçal e Nossa Senhora do Desterro. A comunidade assim o fez para homenagear um de seus fundadores que se chamava Marçal.


São Marçal ultrapassou fronteiras e se enraizou no imaginário folclórico e devocional do povo ludovicense. Encerra com maestria o período junino da capital maranhense e sempre passa aquela sensação de saudade e dever cumprido aos brincantes, além, é claro, da clássica promessa:


“Se Deus quiser ano que vem tem mais”.

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