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Humanae Vitae: São Luís, a ADPF 442 e outras questões do movimento em defesa da vida


(São Paulo VI | Foto: Vatican News)

Desde o mês de agosto, com a abertura da Semana Nacional da Família (de 13 a 19 de agosto), mas, sobretudo, durante o mês de setembro, os fiéis católicos testemunham os pronunciamentos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), sobre a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), nº 442. A ADPF 442, que tem como proposta a descriminalização do aborto até a 12ª semana, terrível relativização da vida humana, que passou a transitar nos noticiários do País, novamente, neste ano.


Após a decisão sobre a votação marcada para o dia 22/9, em modo remoto, a Frente Parlamentar Mista Contra o Aborto e em Defesa da Vida, a partir da deputada Chris Tonietto, junto com a CNBB, a Associação Nacional de Juristas Evangélicos (ANAJURE) e a Associação Brasileira de Direito e Religião (ABDR), entraram com um mandato de segurança pedindo a a proibição da votação.


Enquanto se aguarda os próximos acontecimentos, o fato traz à baila a posição cristã em defesa da vida, de modo incondicional e questões relativas à cultura de morte, onde o aborto é apenas um dos mais terríveis pontos. Soma-se ao tema, o famigerado termo sobre o "planejamento familiar", que legitima diversas questões, com aparência positiva, como os métodos contraceptivos: DIU, anticoncepcionais, preservativos e a pílula do dia seguinte. O que, na prática, desemboca na relativização da vida e da dignidade humana, sem que as pessoas percebam.


Em São Luís, existe um movimento supra partidário e supra religioso, com organismos católicos como a Associação Gianna Beretta, que se dedica à causa pró-vida, com apoio às mães em situação de vulnerabilidade social, que precisam de ajuda financeira, espiritual e psicológica para manter uma gravidez em condições instáveis. A Associação oferece ainda, cursos e palestras que propagam à vida, como um direito desde a concepção até a morte natural, atuando em situações onde jovens ou mesmo mulheres adultas, são inclinadas a pensar no aborto como uma solução para um problema financeiro ou psicológico.


Recentemente, a Associação Santa Gianna Beretta, que integra a Rede Estadual Pró-Vida do Maranhão, levantou a pauta dos contraceptivos em uma palestra ministrada pelo professor de filosofia e colunista do site Imirante, Michael Amorim, sobre a encíclica Humanae Vitae, do Papa Paulo VI, canonizado em 2018 pelo Papa Francisco.


Humanae Vitae é uma encíclica escrita por São Paulo VI, publicada em 25 de Julho de 1968. Inclui o subtítulo "Sobre a regulação da natalidade" e descreve a postura da Igreja Católica em relação ao aborto e outras medidas que se relacionam com a vida sexual humana.


(Michael Amorim e o filho, João Lucas, durante palestra na Associação Santa Gianna Beretta Molla | Foto: Arquivo pessoal de Michael Amorim)

Graduado em filosofia pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Michael Amorim, 31 anos, é professor de filosofia e ensino religioso na rede pública de Paço do Lumiar. Casado com Indiara Amorim, de 30 anos, e pai de dois filhos: João Lucas, de 1 ano e 6 meses, e de Luís Miguel, com nascimento está previsto para meados de outubro, Michael é ex-protestante convertido ao catolicismo, que abraçou a fé católica no final do ano de 2017. Atualmente serve como acólito no Carmelo São José e é catequista de Crisma na Igreja Nossa Senhora Aparecida, no bairro Radional.


Recentemente, Michael Amorim deu seu testemunho de conversão para todo o Brasil no canal do YouTube Catolicismo Blindado, mantido pelo ex-pastor presbiteriano, hoje católico, Eduardo Farias (MG). O relato, atualmente, conta com mais de 28 mil visualizações.


Este jovem intelectual, integra o número de estudiosos que não aboliram a fé do centro de suas vidas e aponta, junto com a Associação Sata Gianna Beretta, a importância de se tratar sobre temas melindrosos, mas necessários no cotidiano, como é o caso da contracepção. Tema que, para além de uma questão meramente de moral religiosa, diz respeito, antes de tudo, ao direito natural relacionado à se ter uma família (homem + mulher = família). Por sua vez, pensar na saúde das famílias é pensar no bem da própria sociedade.


Nossa assessoria de comunicação teve a oportunidade de entrevistar Michael Amorim. Segue abaixo a conversa sobre o tema:


1- Como surgiu o convite para ministrar a palestra?


Conheci a Amanda, então à frente da Associação Santa Giana Beretta, em ocasião de um "Rosário contra o aborto", evento que foi organizado por mim na Praça da Sé no dia da Serva de Deus Chiara Corbella. A Amanda (na época presidente da Associação) foi muito gentil e solícita doando banners e panfletos para serem usados no dia. Foi quando coloquei-me à disposição da Associação Santa Giana Beretta para ajudar de alguma forma. Há algumas semanas recebi o gentil convite para dar uma formação sobre o uso de anticoncepcionais.


2- Sobre o tema abordado, quais são as tuas considerações sobre o que observa na Igreja hoje entre os casais cristãos?


A posição da Igreja a respeito do tema já está mais do que explicada e resumida numa multidão de documentos, à disposição fácil do grande público. O que as pessoas muitas vezes se esquecem de fazer é, como bem lembrou o padre Paulo Ricardo, deixando de lado o que diz essa ou aquela instituição, perguntar com sinceridade a si mesmas: — Mas por que eu, afinal de contas, sou favorável aos anticoncepcionais?


Ao darmos uma olhada nas razões por que mesmo entre cristãos católicos muita gente se deixa seduzir pelos métodos contraceptivos, veremos que o problema de fundo não é outro senão uma visão estreita e materialista da vida. Fruto de uma intensa propaganda a favor do sexo livre e da independência moral do homem que, senhor de sua vida e de suas escolhas, tenta usurpar o lugar de Deus e apagar as leis estabelecidas por Ele na Criação.


No fundo o uso de métodos artificiais para se evitar a transmissão da vida reflete o constante afastamento de nossa sociedade daquilo que antes foi constituído como princípio da sociedade cristã: a fé na Providência Divina. Ou seja, na crença de que Deus dispõe com antecedência do que pode acontecer e com cuidado paternal auxilia-nos na caminhada terrestre rumo à eternidade.


3- Da palestra, algum desdobramento, alguma proposta de continuação do trabalho?


Sim. Iniciamos uma leitura comentada da carta encíclica Humanae Vitae , do Papa Paulo VI. Documento muito rico e que abre espaço para várias reflexões. Muita coisa ainda pode e irá ser dita muito em breve em formações futuras. A ideia é manter as formações regulares na Associação.


4- Sobre o tema e o caso da ADPF 442, que relações tu fazes e qual mensagem tu deixas para os católicos.


O caos jurídico no Brasil de uma obviedade gritante. Mas o problema não se encerra ai. Nosso país enfrenta uma crise sem precedentes no âmbito político, moral, social e cultural.


A maioria da população Brasileira, apesar do crescente afastamento da fé Católica, é convictamente contra o aborto. Por causa disso o PSOL ingressou com uma ADPF a fim de driblar a tripartição dos poderes e o processo legislativo. É o cúmulo do absurdo que a Corte Suprema dê guarida a um pleito cuja ilegitimidade e até mesmo insídia são patentes.


O argumento do Estado “laico” vem sendo repetido incessantemente pelos defensores da ADPF 442. Li recentemente que, na verdade, melhor do que Estado laico, poder-se-ia falar do “Estado louco” como fundamento do pedido de tal ação judicial. Pois um Estado que não centra suas ações na vontade soberana de Cristo Rei, está obviamente enlouquecido.


5- Algum ponto sobre o tema que tu gostaria de evidenciar que não foi tocado nestas perguntas?


Um tema urgentíssimo é o tratado pelo escritor E. Michael Jones em sua obra Libido Dominandi. O autor, nesse livro, não reconta a versão comum da revolução sexual, mas demonstra como essa subversão funcionou, desde o germe, como um mecanismo de controle social. Assim que conseguiram o que pretendiam, aqueles que desejavam libertar o homem da ordem moral tiveram de impor novas formas de controle social às pessoas, porque a libido, quando libertada, conduz inevitavelmente à anarquia.


Ao longo de duzentos anos, essas novas formas de controle social tornaram-se mais e mais refinadas, resultando num mundo em que as pessoas são controladas não por forças militares, mas pelo manejo sutil e habilidoso de suas paixões. O livro expõe o modo como a retórica da liberdade sexual foi usada para fabricar um sistema de controle político e social. O mais interessante é que o Papa Paulo VI, na já citada encíclica Humanae Vitae, elenca entre as consequências do uso de anticoncepcionais justamente o aumento do poderio estatal sobre o indivíduo.


Um outro ponto ignorado por muitos é que a chamada revolução sexual foi obra sobretudo dos grandes capitalistas do ocidente de linha malthusiana, como John D. Rockefeller III, Fundação Ford, etc. A esquerda ocidental, que por volta dos anos 60 já estava praticamente independente intelectualmente da URSS, desejava mais a revolução sexual do que o socialismo propriamente dito. Assim a revolução sexual, de onde surge a propaganda pelo uso de contraceptivos, criou e incentivou vícios e paixões que transformam o homem em um escravo, pois, como diria Santo Agostinho, "o homem tem tantos senhores quantos são os seus vícios". Acho de suma importância a leitura do livro do E. Michael Jones pelos católicos brasileiros. É um livro que deveria ser ensinado em todas as paróquias.



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