Medellín, cidade localizada nos Andes centrais da Colômbia, ficou conhecida – e amada! – por nós brasileiros por sua pronta e dedicada assistência aos esportistas da Chapecoense e à tripulação que os conduzia, por ocasião do trágico acidente aéreo ocorrido já nas proximidades do seu aeroporto. Foi nessa cidade, hoje com cerca de 2,5 milhões de habitantes, que ocorreu, de 23 a 26 de agosto passado, um congresso eclesial para comemorar os 50 anos da Segunda Conferência do Episcopado Latino-americano.
Depois da publicação, em 1968, do documento “A Igreja na atual transformação da América Latina à luz do Concílio”, a Igreja latino-americana não foi mais a mesma. Costuma-se dizer que, assim como o Concílio Ecumênico Vaticano II significou a reconciliação da Igreja com a modernidade europeia, o evento Medellín colocou a Igreja latino-americana diante de sua história e de sua realidade social e econômica.
O congresso para celebrar os 50 anos do evento Medellín foi organizado pelo Conselho Episcopal Latino-americano-CELAM, pela Conferência Latino-americana dos Religiosos/as-CLAR, pela Caritas e pela Arquidiocese de Medellín. Estavam presentes cerca de 500 pessoas, entre cardeais (7), bispos (64), padres (170), religiosos/as (124), leigos/as (118), seminaristas (5) e outros convidados.
A sessão solene de abertura teve lugar no auditório da Pontifícia Universidade Católica com o lançamento do livro “Obispos de la Patria Grande: Pastores, Profetas y Mártires”. Trata-se de uma alentada obra, de cerca de 600 páginas, fruto do trabalho de uma equipe de 23 autores, na qual são biografados 20 bispos que marcaram os últimos 50 anos da Igreja latino-americana e caribenha. A esses 20 bispos acrescentou-se o norte-americano Patricio Flórez que exerceu seu episcopado entre os hispanos pobres que vivem nos Estados Unidos. Do Brasil são lembrados Aloísio Lorsheider, Fernando Gomes dos Santos, José Maria Pires e Hélder Câmara.
O Congresso seguiu a mesma metodologia utilizada na Segunda Conferência do Episcopado Latino-americano de 1968 – ver, julgar e agir.
No ver, os painelistas convidados abordaram a situação social, política, econômica, cultural e ecológica da América Latina hoje, bem como sua situação religiosa e pastoral – avanços, retrocessos e novos cenários em relação a 1968. Certamente que o cenário atual não é de nos entusiasmar. Dois fatos, porém, convidam-nos a renovar a esperança – a escolha do primeiro papa latino-americano e a canonização de dom Oscar Romero.
No julgar, a teóloga brasileira, Maria Clara Bingemer, falou-nos do magistério do papa Francisco. Destacou que, no início de seu pastoreio, o papa disse aos jornalistas: “Quero uma Igreja pobre e para os pobres”. Afirmação essa que foi retomada na Exortação Evangelii Gaudium, ao falar da primazia dos pobres na Igreja.
No agir, colocou-se a questão: Em que direção caminhará a Igreja daqui para frente? Entre outros expositores, o irmão marista Afonso Murad, também brasileiro, deixou-nos as seguintes sugestões: 1. Optar por uma Igreja comunidade, que evangeliza em diálogo com o mundo contemporâneo; 2. Colaborar para uma sociedade inclusiva, equitativa e sustentável; 3. Modificar a iniciação teológico-pastoral e espiritual nos seminários e nas casas de formação; 4. Investir na formação de líderes multiplicadores, leigos e consagrados, em todos os níveis; 5. Dar especial atenção às novas gerações.
Alguns momentos em nossas vidas e na vida das instituições são seminais. O Concílio Ecumênico Vaticano Segundo e a Segunda Conferência do Episcopado Latino-americano, em 1968, fazem parte desses momentos. Não podemos esquecê-los.