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O futuro do Centro Histórico de São Luís


Ribamar Carvalho

Quando conheci São Luís, no ano 2000 por ocasião de minha chegada ao Maranhão, maravilhei-me diante da catedral da sé, com sua fachada neoclássica e seu interior barroco, tendo ao lado o palácio arquiepiscopal. Tudo muito harmonioso. Admirei também, no mesmo quadrilátero em que se encontra a catedral, as fachadas das sedes do governo estadual, do governo municipal e do judiciário. Quando vi outras igrejas e casarões do Centro Histórico, os antigos prédios onde funcionavam casas comerciais e depósitos da Praia Grande, compreendi que, não sem razão, São Luís fora declarada pela ONU patrimônio cultural da humanidade.

Mas... Mais tarde, ao chegar aqui como arcebispo, fui descobrindo uma outra realidade por trás das fachadas – a realidade dos casarões abandonados, das igrejas descaracterizadas, da não valorização das tradições culturais, da fuga das famílias de bem e de bens e da maior parte da administração pública para o outro lado do rio Anil, bem como o clima de cidade fantasma que paira sobre o Centro Histórico, a partir das dezoito horas e nos finais de semana.

Do ponto de vista pastoral, o Centro Histórico abriga quadro paróquias da Arquidiocese de São Luís. São elas: a catedral da sé, a paróquia de São João Batista, a paróquia de São Pantaleão e a paróquia de Nossa Senhora dos Remédios. Localizam-se também no Centro Histórico, sem serem sedes de paróquias, as igrejas do Desterro, a igreja do Carmo junto ao Convento Nossa Senhora do Carmo, a igreja de Sant’Ana na rua Santaninha e a igreja de Santo Antônio. Essas paróquias e essas igrejas esforçam-se por responder os desafios pastorais propostos pela realidade do Centro Histórico.

Vou listar alguns destes desafios.

Quem diz paróquia, diz comunidade. Como formar comunidades numa paróquia em que grande parte dos seus frequentadores provém de outros bairros? Seria o caso de formar – na expressão do falecido padre João Mohana – paróquias por pertença sentimental?

Resquícios de manifestações religiosas populares permanecem no Centro Histórico. Como manter as tradições religiosas de nossos antepassados numa nova situação social, sem que elas sejam apenas um exotismo anacrônico ou – pior – sem que elas caiam no ridículo?

Apesar dos roubos e dos desvios, nossas igrejas antigas ainda abrigam um valioso tesouro no que diz respeito à arquitetura e à imaginária. Como conservar essa preciosa herança de nossos antepassados? Como acolher pessoas que queiram ver e apreciar essas obras? É verdade que, com a organização do museu de arte sacra, localizado no pavimento superior do palácio arquiepiscopal, um grande passo foi dado. Graças à parceria governo do Estado, IPHAN e arquidiocese, São Luís pode orgulhar-se de ter um museu ao mesmo tempo didático, instrutivo e bonito de ser visitado.

O Centro Histórico possui uma significativa população de rua. Quantos são? Por que estão nesta situação? Como ajudá-los? Eis aí um grande desafio para a pastoral.

Fique claro que os problemas do Centro Histórico vão muito além da competência e das capacidades da instituição eclesiástica. Contudo, para além de interesses particulares, superando especulações e manipulações imobiliárias, fico pensando e sonhando num outro Centro Histórico. Um Centro Histórico cheio de vida e de cultura, um lugar de encontro e de confraternização... Estarei sendo ingênuo e irrealista? Se sonharmos juntos, quem sabe algum dia isso possa se transformar em realidade?

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