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Como você se chama?


Foto: Vítor Hugo | Portal da igreja Santo Antônio, Centro Histórico

Até pouco tempo, em muitas famílias era costume dar a um recém-nascido o nome do santo do dia ou de um santo de devoção da família. Tanto isso era costume que muitos padres não batizavam uma criança que não tivesse um nome de santo ou de santa. Se aparecesse alguém com um nome não usual, que não constasse na lista dos santos reconhecidos pela Igreja, sugeria-se – melhor dizendo, ordenava-se – que se acrescentasse logo um José ou um João ou uma Maria. Também na vida religiosa/consagrada, o nome era importante. Nos meus primeiros anos de convento, o costume era celebrar o dia do santo protetor de cada um, não o dia do natalício.

Em várias culturas, até hoje, acredita-se que existe uma ligação quase mágica entre o nome de uma pessoa e sua maneira de ser. Os antigos latinos costumavam dizer que Nomen est omen. Literalmente, O nome é um presságio, isto é, o nome já indica, ao menos um pouco, a personalidade e a maneira de ser do seu dono. Mas também no mundo bíblico, o nome de uma pessoa ou de um lugar era considerado mais que um rótulo convencional que servia apenas para distinguir uma pessoa ou um lugar do outro. O nome tem uma misteriosa identidade com o seu portador, podendo ser considerado um substituto da pessoa. Desrespeitar o nome de alguém é desrespeitar a própria pessoa. Daí se pode entender o respeito que se deve ter ao nome de Deus – seu nome é santo, não tomá-lo em vão é um dos mandamentos do Decálogo.

Conforme informação de frei Francisco van der Poel (frei Chico), no seu Dicionário da religiosidade popular, na Igreja católica são reconhecidos oficialmente mais de trinta mil santos e santas. Claro, nem todos são conhecidos pelas pessoas. Alguns, porém, gozam de imensa popularidade e são muito venerados pelo povo católico. O mesmo frei Chico acrescenta que a veneração dos santos na Igreja confere à salvação uma dimensão histórica e encarnada, ao mesmo tempo em que comprova a fé do povo na ressurreição.

No calendário católico, em junho celebramos três santos muito populares e queridos – Santo Antônio, São João e São Pedro. Aqui no Maranhão, podemos acrescentar um quarto – São Marçal, celebrado no último dia do mês.

Do que se disse acima, quero tirar duas reflexões.

A primeira é sobre a importância de se escolher um nome para uma criança. Por ocasião das celebrações do sacramento da crisma, fico com pena de muitos jovens que têm que carregar, ao longo de suas vidas, nomes tão estranhos e estrambóticos. O resultado disto pode ser o bullying na adolescência ou, então, a substituição do nome próprio por um apelido, nem sempre conveniente ou do gosto de quem tem que

adotá-lo.

A essa reflexão acrescento outra, retirada da última Exortação Apostólica do papa Francisco – Gaudete et excultate, sobre o chamado à santidade no mundo atual. Logo no começo, afirma o papa: somos chamados a admirar os santos e santas “que nos incitam a não deter-nos no caminho, que nos estimulam a continuar a correr para a meta. E, entre tais testemunhas, podem estar a nossa própria mãe, uma avó ou outras pessoas próximas de nós”.

Que o seu santo protetor o abençoe!

*Arcebispo de São Luís do Maranhão

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