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A verdade vos tornará livres (Jo 8, 32)


Gutenberg e a imprensa | Imagem: reprodução

O ser humano é como uma janela aberta ao exterior. Por ela, ele se mostra, sai ao encontro dos outros e, de modo inverso, permite que os outros entrem de alguma maneira em sua interioridade. Essa janela aberta é a faculdade de comunicação, uma faculdade quase ilimitada, que exercemos de diversas formas – palavra falada ou escrita, gestos, imagens, sons, movimentos etc.. O que dizemos ou fazemos, também o que calamos ou omitimos, são formas de nos manifestarmos aos outros. A estas formas chamamos linguagem.

Gutenberg | Imagem: reprodução

Durante muitos séculos, antes que Gutenberg inventasse a imprensa, o modo mais natural de comunicação era constituído pela linguagem oral e pela imagem. Com a invenção da imprensa, a letra impressa começa a destacar-se como meio privilegiado de comunicação. No século XX, surge a radiodifusão. O mundo – também o Brasil –, durante as décadas de 30, 40 e 50 do século passado, viveu a época dourada do rádio. A partir da década de 60 – na verdade chegamos um pouco atrasados com referência a outros lugares do mundo –, a imagem da TV começa a marcar presença em todos os rincões do Brasil.

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Durante muitos séculos, antes que Gutenberg

inventasse a imprensa, o modo mais natural de

comunicação era constituído pela linguagem

oral e pela imagem. Com a invenção da

imprensa, a letra impressa começa a destacar-se

como meio privilegiado de comunicação

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Hoje, demos um passo avante – estamos vivendo a revolução da época digital.

A novidade dessa nova época não está em seus elementos formais – a imagem e som sempre estiveram presentes na comunicação humana –, mas nos meios eletrônicos. Esses meios permitem não apenas o registro de mensagens, mas também a sua difusão, sendo que as possibilidades de sua recepção podem ser multiplicadas até o extremo.

Para o cristão, a comunicação não é simples movimento psicológico inerente à natureza humana. É algo mais. É uma categoria fundamental da revelação cristã. A revelação é, em si mesma, ato de comunicação. Deus revela à humanidade sua própria essência, seu amor trinitário. O mistério de Deus é a revelação da maior relação harmônica que possa existir, por assim dizer, entre emissores e receptores: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Essa comunicação intradivina dá-se ao exterior e alcança o momento culminante quanto “a Palavra de fez carne” (Jo 1, 14) e “imagem do Deus invisível” (Cl 1, 15). A Palavra, sem deixar de ser Palavra, faz-se Imagem, e esta faz visível a Palavra. É o audivisual mais perfeito que jamais a mente humana pudera imaginar. O mistério da encarnação revela, pois, o mais alto grau de comunicação que se possa dar na história.

Como diz a exortação pós-sinodal Evangelii Nuntiandi, no númro 7, Jesus é o “primeiro e maior evangelizador”. Ele anunciou a boa nova da salvação com toda a sua pessoa: com suas palavras, com seus sinais e com suas próprias opções. Jesus não falou em comunicação, porém comunicou, transmitiu o que havia recebido do Pai, compartilhou com seus discípulos sua intimidade mais profunda e culminou sua missão salvífica mediante um ato sublime de comunicação: a entrega da própria vida.

Jesus não deixou nada escrito. Pregou e pediu aos seus que fizessem o mesmo e lhes deu o dom da comunicação: “Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15).

No domingo da Ascensão do Senhor, celebramos mais um Dia Mundial das Comunicações Sociais. Como nos anos anteriores, o papa Francisco nos envia uma mensagem, dessa vez, focalizando as fake news ou falsas notícias, que nos chegam principalmente através da internet. Como todos os meios, também os meios eletrônicos são ambivalentes. As novas tecnologias são instrumentos tanto para o bem como para o mal. Depende de quem as maneja. Por isso mesmo, o papa nos lembra que o melhor antídoto contra as notícias falsas somos nós mesmos.

*Arcebispo de São Luís do Maranhão

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