Um centenário esquecido
No dia 1º de janeiro deste ano de 2018, uma data centenária passou esquecida da população maranhense. Naquele dia, há um século, era entregue ao público a estátua de João Francisco Lisboa, que hoje se assenta sobre sólido pedestal, à praça que leva o nome do grande jornalista e historiador maranhense, no centro da capital maranhense.
A obra foi executada pelo francês Jean Magrou (1869-1945), e pode considerar-se uma das mais vistosas e bem realizadas peças de escultura em bronze que São Luís tem a mostrar.
João Lisboa, nascido em Pirapemas, MA, em 1812, faleceu na capital portuguesa, em 1863. No ano seguinte, os seus restos mortais foram trazidas para a sua terra natal. Na passagem do centenário de seu nascimento, o escritor Viriato Corrêa, então deputado estadual, encabeçou uma campanha em prol da ereção de um monumento, em São Luís, que celebrasse a memória de seu conterrâneo. Diversas circunstâncias, no entanto, dificultaram inaugurar-se a obra na data prevista. Só em 1918 a estátua pôde ser vista pela primeira vez, à entrada principal do Palácio dos Leões.
A realização do evento, confiada à Academia Maranhense de Letras, que àquele tempo ainda buscava consolidar-se no cenário cultural maranhense, teve o presidente José Ribeiro do Amaral como o seu mestre de cerimônias. Um livrinho daqueles dias, publicado pela mesma instituição, guarda, como numa espécie de ata, discursos e detalhes do evento, que se realizou com solenidade tamanha, como hoje seria difícil imaginar, considerado o pequeno número de habitantes de São Luís, que não chegava a 70 mil. Além da presença e representação oficial das autoridades do Estado e do Município, fizeram-se presentes inúmeras personalidades do interior do Maranhão e de outros lugares do Brasil (Academia Brasileira de Letras, Supremo Tribunal Federal, Institutos Históricos do Pará, de Ceará e de Sergipe), além das que enviaram mensagens de congratulações pelo feito. Destaque-se, em especial, a participação de estudantes da capital, que, em companhia de seus mestres, vieram participar da cerimônia. Um Hino a João Lisboa foi por eles cantado, com letra de Alfredo de Assis e música de Adelman Costa.
A inauguração da estátua de João Francisco Lisboa repercutiu muito, para além das fronteiras provinciais. Um artigo do historiador Oliveira Lima, publicado n’O Estado de S. Paulo em 2 de março (data natalícia de João Lisboa) de 1918 congratulava-se com os autores da iniciativa e terminava com estas palavras, que parece muito oportuno reler com os olhos voltados ao que ocorre em nossos dias: “Eu não sei o que diria João Francisco Lisboa dos costumes políticos da atualidade no Brasil, ele, que tanto desadorava e tanto satirizou os do seu tempo. Presumo que não diria grande bem, e nesta suposição lamento que a nossa época não possua um moralista e historiador como ele, para ficarem fixados, em traços imortais, como os de Suetônio, os traços dos nossos césares, sobretudo alguns de província. Emprego talvez mal, com eles, a denominação de césares, mas, enfim, não ficam com isso maiores. Não nos faltam decerto talentos, para se abalançarem à empresa: o que falta muito, e sobrava em João Francisco Lisboa, é independência de caráter, para lhes emprestar autoridade.”
Foi em 1941 (4 de maio), por ocasião da reforma promovida pelo prefeito Pedro Neiva de Santana no centro da capital, que a estátua do chamado Tímon Maranhense foi transferida do frontispício do Palácio do Governo para o lugar onde hoje se encontra.