Por sugestão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, um tema percorrerá a vida eclesial brasileira ao longo do ano de 2018 – o laicato. Para bem fazermos a travessia deste ano, o documento 105 da mesma Conferência – Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade – nos servirá de guia. É dele que retiro algumas ideias.
Primeiramente, é preciso termos uma correta compreensão da Igreja – sua identidade e sua missão. Tal compreensão ou eclesiologia vamos buscar no Concílio Vaticano II, na Exortação Apostólica Christifideles Laici, no documento final da Conferência de Aparecida e, de maneira particular, nos pronunciamentos do papa Francisco. Necessitamos também de uma espiritualidade ou uma mística que nos impulsione na vida e na missão.
O papa Francisco nos tem falado de uma Igreja de portas abertas, mais forte no querigma que no legalismo, uma Igreja da misericórdia mais do que da severidade, uma Igreja – e aqui o papa Francisco cita o papa emérito Bento XVI – que cresce não por proselitismo, mas por atração. Em suma, uma Igreja missionária.
Quanto à espiritualidade ou mística, o texto da CNBB deixa claro que não se trata de qualquer mística ou espiritualidade. Algumas delas não nos servem. “Na conjuntura atual da Igreja – afirma o documento em seu número 195 – despontam algumas tendências ao subjetivismo sentimental, ao devocionismo, ao demonismo, às ‘revelações privadas’”. Para afirmar que tais tipos de mística não nos servem, o documento recorre ao número 70 da Evangelii Gaudium:
Certo é também que, às vezes, se dá maior realce a formas exteriores das tradições de grupos concretos ou a supostas revelações privadas, que se absolutizam, do que ao impulso da piedade cristã. Há certo cristianismo feito de devoções – próprio de uma vivência individual e sentimental da fé – que, na realidade, não corresponde a uma autêntica piedade popular. Alguns promovem estas expressões sem se preocupar com a promoção social e a formação dos fieis, fazendo-o em alguns casos para obter benefícios econômicos ou algum poder sobre os outros.
Com referência à espiritualidade, há um outro risco, chamado pelo papa de mundanismo espiritual, que consiste em “só confiar nas próprias forças e se sentir superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser irredutivelmente fiel a um certo estilo católico, próprio do passado. Esta suposta segurança doutrinal ou disciplinar que dá lugar a um elitismo narcisista e autoritário, é uma forma desvirtuada do cristianismo que tende a analisar e classificar os demais e controlar tudo” (Evangelii Gaudium, 94),
Não consigo terminar este artigo sem citar, de novo, o papa Francisco. Desta vez, ele se dirige indiretamente aos cristãos e cristãs da América Latina e do Caribe. Escreveu ele, em carta datada de 19.03.2016, ao Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina:
Muitas vezes caímos na tentação de pensar que o leigo comprometido é aquele que trabalha nas obras da Igreja e/ou nas realidades da paróquia ou da diocese, e refletimos pouco sobre o modo como acompanhar um batizado na sua vida pública e quotidiana; sobre como, na sua atividade diária, com as responsabilidades que tem, se compromete como cristão na vida pública.
O Ano do Laicato seja para nós, Arquidiocese de São Luís, um kairós, um tempo favorável. O que se quer é que tenhamos leigos e leigas seguros de sua dignidade e confiantes em sua missão.
Dom José Belisário da Silva, arcebispo metropolitano.